Os 9.999 Seres

Desde que o ser humano começou a perambular pelo planeta nunca houve tantas extinções como agora.

Luiz Carlos Joels, Coordenador Geral de Meio Ambiente/Ministério da Ciência e Tecnologia Membro da Comissão Brasileira de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21

Jornal Tao do Taoísmo – n. 13 índice

O Tao Te King nos conta que “O Tao deu origem ao Um, o Um ao Dois; o Dois produziu o Três que gerou os Dez Mil Seres”. Mas talvez já não tenhamos os Dez Mil Seres. A diversidade está diminuindo na face da Terra com a extinção de espécies de plantas, de animais e de microorganismos. Extinções não são uma novidade, elas sempre ocorreram, como aconteceu com os dinossauros e outros répteis gigantes. O aparecimento de novas espécies também ocorrem naturalmente, devido a mutações genéticas que são normais no ciclo da vida. Mas desde que o ser humano começou a perambular pelo planeta nunca houve tantas extinções como agora.

No passado, a caça foi a principal causa de extinções causadas pelo homem, como ocorreu com os grandes mamíferos nas Américas. Mas hoje, a caça já não é a causa principal para o desaparecimento das espécies. Em seu lugar agora está a destruição dos habitats onde vivem os animais e as plantas. O desmatamento é a forma mais comum dessa destruição de habitats, que também acontece quando os mangues e lagoas são aterrados, as praias e restingas são ocupadas, os rios são barrados e os campos são substituídos por plantações.

Também a poluição, principalmente por pesticidas e metais pesados, pode causar extinções ao modificar as características de um ambiente e torná-lo inadequado à vida de certas espécies. Da mesma forma, o efeito estufa tem causado mudanças na temperatura do mar, levando espécies de coral à extinção. Há espécies que estão em perigo porque seus habitats foram invadidos por espécies trazidas de outros lugares pelos seres humanos. Um exemplo famoso desta situação é a introdução da cobra marrom na Ilha de Guam no Pacífico, há cerca de 50 anos. Nessa ilha não havia predadores de aves – a não ser outras aves – e com isto elas aves não desenvolveram mecanismos de defesa adequados. Com a chegada da cobra marrom, diversas espécies de pássaros foram extintas.

Hoje há no mundo 1.130 espécies de mamíferos e 1.183 de aves ameaçados de extinção. Também um terço das espécies de palmeiras enfrenta esta situação. A lista das espécies em extinção no mundo é publicada pela IUCN – União Internacional para a Conservação da Natureza. É o tristemente famoso Livro Vermelho. No Brasil, o IBAMA prepara periodicamente listas vermelhas que incluem 228 espécies animais e 100 vegetais ameaçadas de extinção. São exemplos de animais em extinção no Brasil o cervo do pantanal, a baleia jubarte e o mico leão dourado. A arara azul pequena, o Tietê de coroa e várias espécies de borboleta já estão extintos. Entre as plantas, encontram-se em perigo, entre muitas outras, o pau rosa e diversas espécies de orquídeas.

A população e os governos de todo o mundo já estão alertas sobre o problema das extinções. Há uma acordo internacional para tratar do assunto, a Convenção sobre a Diversidade Biológica, lançado durante a ECO-92, no Rio de Janeiro. Muitos países, incluindo o Brasil, estão tentando reverter esta tendência, através de políticas, programas e projetos. ONGs lutam em toda parte pela manutenção da biodiversidade. Parques Nacionais e outros tipos de áreas protegidas são criados. O Brasil lançou recentemente sua Política Nacional de Biodiversidade e criou o maior parque de florestas tropicais do planeta, o Parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque com mais de 3 milhões de hectares. Projetos para conservar as espécies podem conseguir financiamento de diversas fontes, nacionais e internacionais.

Durante a Cúpula de Joanesburgo, em setembro passado, os países do mundo inteiro assumiram o compromisso de reduzir significativamente a atual taxa de perda de biodiversidade até 2010. Mas até lá, muitas espécies deixarão de existir e ao reduzirmos a atual taxa de perda não estamos evitando que o planeta fique cada vez mais pobre.

Os 9.998 seres.

Os 9.997 seres…

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