I Ching Flor de Ameixeira

Mestre Shao Yung

Tradução e compilação Debora Dines

“A técnica da Flor de Ameixeira possibilita a criação de um oráculo de I Ching aparentemente do nada. Sem varetas nem moedas, o método é muito simples, e ao mesmo tempo sofisticado. Para interpretar o oráculo, Mestre Shao Yung podia utilizar, alem dos hexagramas, números, imagens, cinco movimentos, dados astrológicos, observação e intuição.”

Oscar Maron Professor de I Ching Flor de Ameixeira Sociedade Taoísta do Brasil

O I Ching Flor de Ameixeira é um oráculo com características mais dinâmica, que pode trazer uma revelação diretamente do Céu, da Natureza ou do Universo, sem que uma pergunta seja formulada. Não utiliza ferramentas convencionais do I Ching (moedas e varetas). O hexagrama resultante pode vir de uma imagem vista na rua ou do numero de martelada que o vizinho dá na parede exatamente no momento em que você se pergunta se deveria se arriscar num negócio ou não. Após o contato com a circunstância e a percepção, utiliza-se a imagem ou número captados, traduzidos para a imagem simbólica do I Ching, os hexagramas. Por isso também é importante estudar bastante o I Ching, que ajuda a desenvolver o lado intuitivo para interpretar a simbologia dos hexagramas. Por fim, utiliza-se a peça chave: lógica e intuição, que levam a interpretação do símbolo.

Em chinês, este oráculo é chamado de Mei Hua Yi Shu Yi (Shu significa numero) ou de Mei Hua Xin Yi (Xin significa coração). Mei Hua é flor de ameixeira e Yi vem do I Ching. Flor de Ameixeira trabalha essencialmente com percepção e circunstância. Por percepção entende-se todos os sentidos, mente, raciocínio, intuição e emoção. Circunstância seria o momento, o tempo, o acontecimento, o que está ao seu redor, as pessoas e o relacionamento que existe aí. Estes elementos correspondem à palavra Xin, que aqui deveria ser entendida como o âmago da pessoa.

No I Ching tradicional, o julgamento dos hexagramas, as linhas e os textos foram escritos para ajudar a interpretar as imagens e os números, portanto são ensinamentos do Céu Posterior. Este I Ching enfatiza a compreensão profunda do julgamento, da imagem, das linhas, do grande tratado, etc. As contribuições escritas por Confúcio, Rei Wen e Duque de Chou interpretam o símbolo puro do hexagrama. Então são ensinamentos do Céu Posterior, são manifestados. Mas a origem destes textos é simplesmente a imagem e os números do I Ching, que pertencem ao Céu Anterior, ou seja, um conhecimento anterior aos textos clássicos e filosóficos. Assim, o estudo do I Ching baseado no Céu Anterior enfatiza os números e as imagens, e não os textos clássicos.

O Oráculo Flor de Ameixeira tem um profundo elo com os antigos mestres tradicionais taoístas. Sua criação foi atribuída a um grande mestre, Shao Yung.

CÍRCULO DE HEXAGRAMAS

Os 64 hexagramas ordenados pelo Mestre Shao Yung (1011-1077) em circulo e em quadrado. E considerado o mais completo, sedutor e harmônico esquema gráfico do I Ching. Representa o Universo na Unidade de suas pulsações.

O método foi originado de um sistema de I Ching taoísta chamado Shang Tian Yi Xue, que literalmente significa “O Estilo do I Ching do Céu Anterior”. Foi Shao Yung quem popularizou este método, e só nos últimos 300 anos ganhou o nome mais conhecido de “Flor de Ameixeira”.

No livro “Feng Shui: The Ancient Wisdom of Harmonius Living for Modern Times”, a autora taoísta Eva Wong explica, no texto reproduzido a seguir, quem foi este grande mestre que criou o I Ching Flor de Ameixeira. Para Shao Yung (Shao K’ang-chieh, Shao Yao-fu, 1011-1077), o homem é apenas uma dentre muitas criaturas, embora a mais importante de todas, e é apenas parte de um extenso processo de operação universal.

“Mestre de adivinhação da era Sung, Shao Yung, também conhecido como Shao K’ang-chieh, é descrito como um dos grandes sábios de seu tempo. Ele era especialista em todas as artes e ciências do período antes de atingir a idade de 20 anos. Como não estava interessado em seguir carreira no serviço civil, preferiu morar nas montanhas. Vestia-se com um único manto, fizesse calor ou frio. No inverno não precisava de fogareiro e no verão não utilizava leque de abanar. Era humilde, sincero, amigável e gentil. Foi amigo dos grandes eruditos de seu tempo, como Ssu-ma Kuang, Ch’eng Hao e Ch’eng I, e se integrava da mesma forma com fazendeiros, madeireiros ou pescadores.

Existem muitas histórias sobre Shao Yung, mas a melhor de todas fala de sua habilidade como adivinhador. Nela, ele estava andando no mato com um amigo quando ouviu o gralhar de um corvo. Shao Yung suspirou e disse: “dentro de dois anos o norte estará em caos”. “Como você pode adivinhar isso?”, perguntou o amigo. “Quando a névoa flui do norte para o sul”, explicou Shao, “o país está estável. Já quando a névoa flui para o norte, há caos”. E prosseguiu o mestre na sua explicação: “O corvo é um pássaro do sul e seu gralhar é como o hálito do sul. Isso significa que a névoa do sul determinará o curso dos eventos e que as pessoas que vivem no norte vão sofrer, porque os fogos do sul vão subjugar as águas do norte.” Não muito depois desse ocorrido, Wang Na-shih, ministro e conselheiro do Imperador, introduziu uma série de reformas que resultaram em desastre, tanto para o governo, como para o povo. As pessoas do Norte suportaram o impacto das reformas e foram as que mais sofreram.

Quando Shao Yung estava prestes a morrer, foi atendido por seus amigos Ch’eng Hao, Ch’eng I e Ssu-ma Kuang. Os amigos queriam enterrá-lo perto de sua cabana para que ele permanecesse em seu próprio ambiente. Shao Yung adivinhou o pensamento deles e lhes disse que não gostaria de ser enterrado perto de sua casa, porque o túmulo iria romper o fluxo de energia da área. Isso mostra que Shao Yung não apenas era conhecedor do feng shui de túmulos como também era sensível à preservação da harmonia da terra.

Chu Hsi, o grande erudito neo-confucionista daquele período, disse o seguinte a respeito de Shao:

O Céu o criou para ser um homem acima da humanidade. Na terra, seu talento e aprendizado não tinham comparação. Ele galgava com os ventos e montava nas nuvens. Sua visão era sem limites e seus insights iam além de qualquer fronteira. Suas mãos alcançavam o zênite da lua. Seus pés tocavam as raízes do paraíso. Ele vagava com calma entre passado e presente. E verdadeiramente, bebia dos mistérios do Universo. da introdução de Chu Hsi à obra de Shao Yung “Wang-chi ching”

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