Jornal Tao do Taoísmo – n. 18 índice
Estar receptivo para sintonizar, integrar e se realizar junto à lógica da atividade do mundo é o ponto chave da sabedoria chinesa.
Para alcançar essa integração harmoniosa com a realidade – descrita pelos taoístas como a “união do Homem com o Céu” – é necessário esvaziar a consciência de preconceitos, fronteiras, apegos, e estar disponível às transformações. Somente assim é possível ter acesso a todas as tendências e tirar o melhor proveito possível das mutações que ocorrem no interior de cada um de nós e no mundo. A abertura interior torna possível se adequar conforme a realidade exige, portanto, a própria abertura é a essência da realidade.
Quando o Céu entra em ação, o sábio taoísta flui como o rio, quando o Céu entra em quietude, o sábio permanece quieto e sólido como a montanha. Assim quando a perspectiva da realidade está favorável expandimos, quando não está, nos resguardamos.
O objetivo da filosofia taoísta é excluir a diferença entre a realidade individual e a realidade do mundo. Porém, não vamos confundir estar em harmonia com o Céu com conformismo. A questão não é se resignar e dizer: “assim seja”, mas “assim é”. É sábio aquele que consegue enxergar que é assim. Realizar em outras palavras é tomar consciência da evidência.
Quando a “união do Homem com o Céu” é realizada, com naturalidade e plenitude, o universo parece conspirar a seu favor, como na poética descrição de Chuang Tsú, sobre a sensação de integração do sábio taoísta com o Princípio do Tao:
“… Foi seguindo ao sabor do vento, para o leste e para o oeste, qual folha ou palha ressequida, sem poder discernir se era o vento que o carregava ou se era ele mesmo que carregava o vento (…) As trovoadas mais violentas destruirão as montanhas e os furacões enfurecerão os mares sem conseguirem assombrá-lo. Uma arma não encontraria nele, onde enfiar seu corte! Nele não há lugar para a morte!”.
O sábio se mescla com o sopro vivificante do universo e, livre, diverte-se no vento. Haja o que houver, o mal e o bem, nada alteram para ele! As respostas em qualquer época estarão sempre na compreensão das mutações. Suave, leve, solto, integrado com o ciclo das mutações, o sábio taoísta cavalga os ventos contemporâneos de forma mais atual do que nunca.
As mutações estão no ar. A expressão “mudança é a palavra chave”, é a mais usada nos discursos dos líderes, cientistas e pensadores da atualidade. Que o ano de 2004 (ano chinês de 4702) traga um sopro renovador para tudo e para todos.
Bons ventos nos levem!