Vários e-mails: Segundo a visão taoísta, como podemos alcançar a Iluminação?
Resposta extraída do livro inédito Tao do Taoísmo II do Mestre Wu Jyh Cherng
Jornal Tao do Taoísmo – n. 18 índice
O Taoísmo possui inúmeras técnicas místicas que visam levar ao estado de iluminação. A transformação interior faz com que a pessoa rompa suas barreiras, transcendendo as limitações das três fronteiras: desejo, forma e não-forma. Neste caminho, que é o próprio retorno ao Tao, progressivamente, nos tornamos mais lúcidos, aperfeiçoamos nossa consciência, e atingimos um sentido de vida mais universal, com maior grau de harmonia, libertando-nos dos laços e das sombras da vida e da morte.
Para alcançar este resultado e tornar-se uma pessoa espiritualmente livre e libertada, há diversos tipos de técnicas ou ferramentas. Estas ferramentas são basicamente classificadas em cinco tipos, que são: meditação, ritos e cerimônias, estudos e vivências filosóficas, compreensão da vida (muitas vezes utilizando ferramentas como astrologia, Yi Jing (I Ching) e outros conhecimentos similares) práticas da bondade.
Na visão taoísta, para alcançar a iluminação, há diversos tipos de técnicas: meditação, ritos e cerimônias, estudos e vivências filosóficas, artes, compreensão da vida e práticas da bondade.
A prática de bondade não precisa propriamente de técnica. Basta praticar. Tirando esta, as outras quatro já envolvem conhecimentos e técnicas. Estes são classificadas em outros três níveis, que chamamos de Caminho, Lei e Arte.
Caminho: é o caminho da auto-realização, representado pela própria palavra Tao do Taoísmo. A meditação é classificada como caminho, pois através dela você senta, se interioriza, trabalha e se transforma. O propósito da meditação é, através de uma técnica correta (existem inúmeros tipos), a pessoa se transformar mentalmente, emocionalmente, energeticamente e até fisicamente. Este tipo de meditação é chamado dentro do Taoísmo como Tang Ti Hai que significa ramificação do elixir e do caldeirão. É a escola dos alquimistas taoístas, pois a meditação taoísta é alquimia interior, é o método da transmutação. Este é considerado o mais alto nível dentre todas as técnicas e, por isso, é chamado de Caminho.
Lei: descendo um degrau, existe uma outra classificação chamada Fa, que significa literalmente “Lei”. Significa a lei da natureza, a lei do céu e da terra, a lei espiritual e a lei universal.
Quando o budismo entrou na China precisou de uma palavra para traduzir Dharma e escolheram a palavra Fa do taoísmo para substituir. Então para os budistas o Fa, ou a Lei do taoísmo, seria Dharma. Para os taoístas, no entanto, a conotação é um pouco diferente: enquanto o Dharma basicamente representa o ensinamento do Budha, aquilo que está de acordo com o que ele transmitiu, para nós, o Fa refere-se à lei do universo, à lei do espírito, à lei do sagrado, a lei da natureza e a lei da naturalidade que rege todas as coisas.
Nesta categoria, entra o conhecimento dos ritos e cerimônias, porque todos os ritos e cerimônias taoístas são simplesmente técnicas e ferramentas para nos sintonizar com o que está acima, abaixo e em torno de nós. É a união de todas as coisas em perfeita sintonia, através dos cantos, através dos mantras, através da mentalização, através da visualização, dos símbolos místicos, mudras, selos mágicos, danças sagradas, traços mágicos. Na categoria da Lei é classificada toda esta parte “mágica” e ritualística.
Artes: descendo mais um degrau, há o que nós chamamos Shu, que significa Arte ou Artes. São conhecimentos de origem espiritual e, uma vez desenvolvidos, funcionam como ferramentas de assistência. Medicina, curas com mão, com ervas, com acupuntura, com mentalização, tudo isto são artes da cura. Há as artes de orientação, como o oráculo do Yi Jing (I Ching) e demais estudos sobre destinos.
Caminho, Lei, e Artes
Assim, com tantas ferramentas taoístas para o caminho espiritual, você vai vivendo uma vida espiritual tanto através da Arte, da Lei e do Caminho. Na verdade, normalmente um taoísta tradicional possui conhecimento dos três, simultaneamente. O que pode diferir entre um taoísta e outro taoísta é a sua maior especialização em alguma das técnicas, usando em maior ou menor grau o Fa e o Shu para complementar o seu Caminho. De qualquer forma, o principal conhecimento é o Tao, o Caminho: para fazer um bom trabalho na Lei ou nas Artes, ele terá que se espiritualizar. Através da meditação, ele pratica o Tao, dando apoio ao seus outros trabalhos, e, na mão inversa, utiliza os conhecimentos das Artes e da Lei para dar assistência ao Caminho.
É muito comum que os monges, especialistas em ritos e cerimônias, sejam solicitados a ajudar pessoas sobre questões da vida e do destino, que nada têm a ver com sua especialidade, então ele tem que possuir algumas capacidades de estudos das artes para auxiliar as pessoas ou trabalhar com curas. Ou, ao contrário, uma pessoa é especialista em artes, mas, para esta arte tornar-se eficiente, tem que ter certo grau de conhecimento da Lei e praticar meditação para que ele possa sempre estar bem para realizar curas nos outros. Por que uns têm uma especialidade e outros, tem outra? Porque simplesmente nossa vida é muito curta, não dá tempo de ser especialista e um bom especialista em tudo.
Se você pratica Tai Chi e está se especializado em Tai Chi, para fazer um bom Tai Chi e ainda sobrar tempo talvez dê para estudar um pouco de massagem, mais um pouco de meditação, mas não dá para ser um grande mestre de Tai Chi, grande astrólogo, grande mestre de meditação e grande médico, grande mestre de oráculos e ainda grande mestre de todos os ritos e cerimônias, é impossível, não dá tempo. Precisaria viver seiscentos anos para aprender e depois para aperfeiçoar, então normalmente é necessário à pessoa fazer uma restrição: o que é mais importante para mim, onde eu estou, qual é o caminho que eu posso seguir para nesta vida eu me explore de maneira melhor e mais eficiente. O que realmente eu gosto e, a partir daí, definir suas prioridades. Por isso, normalmente, os mestres são especialistas em alguma coisa, em alguma área, e dentro desta às vezes até é possível agregar dois ou três conhecimentos bem desenvolvidos.
Há, por exemplo, pessoas da área das artes que são muito boas simultaneamente em astrologia taoísta, Yi Jing (I Ching) e Feng Shui. Meditam meia hora, uma hora por dia para acertar o interior e possuem algum conhecimento mágico para, ao fazerem seus diagnósticos, saberem se defender e ajudar a “quebrar galhos” do seu cliente. Apesar disso, elas não se consideram mestres de conhecimentos mágicos ou de meditação e, sim, mestres de arte, de destino.