A Conquista do Tao

comentários sobre o método de meditação sentar e esquecer do Mestre Dzen-I

Wu Jyh Cherng Sacerdote Taoísta Ordem Ortodoxa Unitária Presidente da Sociedade Taoísta do Brasil

Didaticamente, o taoísmo define quatro estágios dentro da realização de um praticante, com relação ao Caminho Taoísta: procura, aprendizagem, conhecimento e conquista. No primeiro estagio o iniciante está procurando o Caminho, até encontrar e se definir por um método, Escola ou Mestre e iniciar sua pratica de meditação, quando então passa para o segundo estagio, que é a aprendizagem, tanto da teoria quanto da prática do Tao. No segundo estagio o praticante lê Textos Sagrados, inicia o aprendizado de aplicação da teoria taoísta da sua vida cotidiana e permanece nesse estagio até entrar em fixação pala primeira vez, quando então estará dominando a pratica da meditação. Nesse momento ele passa para o terceiro estagio, de conhecimento do Tao, um período de realização do Caminho. Nesse estagio ele dá prosseguimento a seus estudos e vive, no seu processo de meditação, a alternância de entradas e saídas no Autentico Vazio, por isso esse estágio é chamado por Mestre Dzen I, “conhecer o Tao”, um período em que o praticante exercita o conhecimento do Tao.

Isso significa que nessa etapa, todas as vezes em que se senta para meditar ele entra em fixação, na profunda quietude experimenta as Maravilhas do Tao e quando volta ao mundo manifestado tem a sensação de que experimentou uma Maravilha, mas não consegue descrever aquela sensação de entorpecimento que viveu. Então, o praticante vai ao Tao ou Vazio Inexistencial, conhece e experimenta o Vazio, mas quando volta para o mundo manifestado ainda se separa do Tao, portanto nesse estagio ele já conhece, mas ainda não conquistou o Tao. A conquista, de fato só se dá no estagio seguinte, o quarto e ultimo, quando então o praticante se torna o próprio Tao. Quando alcança quarto estágio, deixa de existir a separação entre o praticante e o Tao: a pessoa deixa de caminhar no Caminho para se tornar ela própria o Caminho para que os outros possam caminhar nela. No estágio que Mestre Dzen I chama de Conquista do Tao, o praticante e o Caminho se tornam um só, o espírito da pessoa e o espírito do Absoluto se fundem num só, o corpo da pessoa e o corpo do Universo se tornam um. Nesse momento, todos os caminhos estão dentro dessa pessoa e todos os caminhantes estão no caminho que essa pessoa oferece a todos, esse é o sentido de conquista do Tao, ultimo estágio do conhecimento do Mistério. Os seres que alcançam esse nível são chamadas no taoísmo de Homens Sagrados; eles adquirem a consciência do Absoluto porque sua consciência retorna ao estado primordial da pureza sem forma, origem de todas as consciências e de toda potencialidade criadora de todas as formas e linguagens, por isso o Caminho da Busca do Tao se chama Caminho do Retorno.

Isso ressalta para o leitor o grau de importância que a pratica da meditação ocupa dento do Caminho Espiritual Taoísta. Algumas pessoas acreditam existir uma linha divisória entre o que seria o taoísmo filosófico e o que seria o taoísmo religioso ou místico e diante desse pensamento adotam um estilo de vida baseado no que consideram ser a filosofia taoísta de integração com o mundo através da contemplação da natureza, mas se negam a praticar a meditação. Quando conseguem alcançar seus objetivos, essas pessoas se tornam espontâneas, despojadas e desapegadas; passam a viver em florestas ou montanhas, pregam e praticam a paz e a harmonia e se convencem de que estão no caminho certo que vai levá-las à realização de encontro com o Tao. No entanto, o conceito que essas pessoas seguem não tem consistência dentro da religião taoísta porque somente a experiência de relação sutil com a natureza, mediada pela filosofia taoísta não basta para levá-las a conhecer o Tao; para realizar-se no Caminho Espiritual Taoísta é preciso mais do que uma experiência exterior, ainda que essa experiência tenha a duração de toda a vida de uma pessoa.

Para realizar-se no Caminho Espiritual Taoísta é preciso que o praticante passe pela experiência interior de conhecimento do Mistério e essa experiência não se adquire praticando uma vida de estilo despojado, como por exemplo adotando os costumes de se deitar na areia da praia para sentir o vento bater em sua pele ou na grama de um jardim para sentir o aroma das flores ou contemplar os beija-flores no seu ir e vir. Adotando apenas essa postura um taoísta não consegue se realiza; para alcançar a realização ele precisa cultivar a quietude interna quando se senta para meditar, até conseguir se desligar totalmente das manifestações externas e então se deixar levar para um universo que está alem das manifestações e das linguagens do ‘vento’ ou da ‘borboleta’. Essa é a experiência mística taoísta, o braço místico ou religioso que algumas pessoas não compreendem e supõem ser possível separar do que consideram ser a filosofia taoísta. Um taoísta deve, de fato buscar a relação externa harmoniosa com a natureza, mas nem por isso deve esquecer-se de buscar a experiência interna de contato com o Mundo do Mistério, vai levá-lo à Conquista do Tao porque se é possível viver p taoísmo exteriormente, através da naturalidade e integração harmoniosa com o mundo, não é possível viver o taoísmo profundo sem passar pela meditação. E é por esse motivo que todos os Mestres Taoístas, de todas as áreas de atuação e Escolas praticam a meditação.

Quando um taoísta chega ao estagio de ‘Conhecer o Tao’ começa a experimentar o aumento da inteligência e ter conhecimento do Mistério do Tao, sem ter ainda conquistado o Tao. Nesse momento ele corre o risco de se tornar fascinado pela lucidez adquirida e começa a usar e divulgar de maneira imprudente todo acréscimo que adquiriu, passando a ser um criador ou inventor compulsivo, a fazer uso de talentos novos ou aprimorados, como previsões, premonições, capacidades de curas e outros, tornando-se profético e despertando com esse comportamento um excesso de solicitações. O resultado dessas atitudes insensatas é a pessoa estacionar seu processo de meditação nessa etapa, não passar para o estagio seguinte, de ‘Conquista do Tao’ e com isso não alcançar sua realização espiritual.

O praticante que age dessa maneira conhece a vantagem da inteligência porque faz uso intensivo dessa qualidade, mas desconhece o beneficio da conquista do Tao porque não se preserva para passar para o estagio seguinte.

Conquistar o Tao é alcançar o Sagrado e isso mostra por que, no taoísmo meditar é realizar o Caminho Espiritual. Esse texto foi escrito há 800 anos atrás, mas já naquele tempo Mestre Dzen-I alertava seus leitores para o erro em que incorrem muitas pessoas, quando encaram a meditação como uma terapia de alcance físico e emocional e não como ferramenta que pode levar à Sagração. A pessoa que pratica o método de meditação de ‘Sentar e Esquecer’, que tem como propósito a Sagração do homem, esperando conseguir somente resultados terapêuticos, como livrar-se de irritações ou insônias, por exemplo ou tornar-se uma pessoa mais ativa e mais inteligente está reduzindo o alcance da ferramenta que tem em mãos, utilizando-a para uma satisfação menos, quando poderia utilizá-la para chegar a um ponto tao longínquo como sua Sagração ou Imortalidade.

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