Chuang Tzu inspirou Dzen I
O Mestre Iluminado Dzen I (647 D.C.), da dinastia Tang, no seu tratado clássico “Discussão sobre Meditação”, utiliza várias citações de Chuang Tzu, tais como, no capitulo VI, “Fixação Pacifica”:
“A Fixação é o território extremo de sida do mundano, a base inicial do alcance do Tao, a obra concluída da aprendizagem da quietude, a atividade final da manutenção da tranqüilidade. Na Fixação, o corpo é como uma arvore seca e a mente é igual à cinza esfriada: não tem sentido nem desejo, é o momento do alcance do despojamento e da quietude. Na Fixação no existe intenção nem impedimentos circunstanciais, por isso é chamada de ‘Fixação Pacifica’.”
Chuang Tzu dizia:
“Quem possui a residência da fixação pacifica possui o despertas da luz celestial.”
“Residência” refere-se à mente; “Luz Celestial” refere-se ao despertar da inteligência. “Mente” é um instrumento do Tao, por isso, quando a “Residência” está vazia e tranqüila ao extremo, o Tao, naturalmente, irá morar nela. “Inteligência” não é apenas uma manifestação recente, é originada da Consciência Primordial, por isso é chamada “Luz Celestial”. […]
No texto a seguir, Mestre Wu Jyh Cherng interpreta essa citação com comentários sobre meditação e espiritualidade.
Chuang Tzu dizia: “QUEM POSSUI A RESIDÊNCIA DA FIXAÇÃO PACÍFICA POSSUI O DESPERTAR DA LUZ CELESTIAL”
Chuang Tzu é o segundo mais importante pensador do taoísmo depois de Lao Tzé, o Patriarca do Caminho Taoísta. A frase de Chuang Tzu está dizendo que a pessoa que consegue atingir o estágio de fixação na paz consegue despertar a Iluminação na sua consciência porque entra em completa quietude e sendo assim, a residência dessa consciência passa a ser a quietude. Se a mente é a manifestação do Tao e se o Tao, como conceito, não se manifesta porque ele é o próprio Vazio Inexistencial, exatamente quando essa residência se esvazia é que o Tao naturalmente virá morar nela. Isso significa que para uma pessoa alcançar o Tao precisa esvaziar sua mente e para isso acontecer ela necessita expandir sua consciência até chegar ao estagio da consciência primordial, quando então encontrará a manifestação de uma inteligência ou Iluminação chamada de ‘luz celestial’, esse é o sentido do despertar da inteligência, que surge do esvaziamento paulatino da mente do praticante.
O mundo manifestado é dual, por isso as consciências dos seres humanos estão sempre no estado dual, o que significa dizer que todas as vezes em que uma pessoa tem um pensamento positivo, a consciência do pensamento negativo acompanha essa manifestação e o mesmo acontece com todos os sentimentos, entre si: se a pessoa experimenta uma alegria, a consciência da tristeza não desaparece por isso ou, então, se ela passa por uma frustração, a consciência do contentamento também não abandona sua mente. Ma quem chega ao estado de profunda quietude adquire uma consciência em estado uno, onde deixam de existir pensamentos e sentimentos que colocam o bem em confronto com o mal para existir a compreensão de todas as manifestações como formas físicas, pensamentos e sentimentos que emanam de uma fonte única. Esse é o estado que Mestre Dzen I chama de despertas da inteligência e isso, na pratica significa que quem alcança a fixação pode encontrar a consciência universal; com a entrada da consciência universal no seu âmago, a capacidade da sua consciência manifestada se expande e é isso que traz a inteligência. Então, a experimentação da fixação torna as pessoas mais inteligentes e quanto mais a pessoa medita, mais inteligente se torna.
FIXAÇÃO
A fixação não é um objetivo da meditação e sim o aprofundamento do Caminho Espiritual de uma pessoa: na fixação o praticante rompe com a dimensão do universo manifestado para entrar no Vazio onde existe a potencialidade de todas as criações e a partir desse Vazio ele consegue conectar com todas as manifestações e sinais de vida que estão alem do universo manifestado, mas para conseguir alcançar essa dimensão, ele precisa de desvincular dos sentidos físicos e dos estímulos externos. Então, o processo se dá da seguinte maneira: o praticante está vivendo no mundo físico, vinculado aos sentidos e estímulos externos; inicia sua pratica de meditação, tenta unir sua mente à respiração e enquanto faz isso começa a se desvincular do que está à sua volta; em seguida, alcança a fixação, esse é o momento em que ele fica totalmente desvinculado do mundo sensorial, mas isso não significa que sua consciência deixou de existir: ela apenas ficou profundamente serena e ele passou a habitar, por alguns instantes ou horas, uma outra dimensão, um espaço vazio de existências, mas pleno de potencialidade criativa. Durante esses instantes, o praticante é esse Vazio: ele não é mais uma pessoa sentada em lótus que possui uma consciência porque ele se uniu à sua própria consciência, então o praticante e sua consciência se transformaram num único ser e nessa hora ele começa a experimentar e a compreender o mundo que está além do universo manifestado, por isso a fixação é considerada como a base inicial do alcance do Tao.
ILUMINAÇÃO
Esse processo leva sua consciência a se expandir e quando sai da meditação, depois de ter passado por essa experiência, a pessoa percebe que se tornou mais lúcida e inteligente e na medida em que aumenta seu tempo de fixação durante a meditação, todas as vezes em que volta para o mundo manifestado percebe que está um pouco mais lúcida, até chegar ao ponto de uma lucidez completa e abrangente, esse é o momento em que o praticante se torna iluminado.
Nesse estagio ele vai adquirir a consciência universal porque vai conseguir conectar com todas as manifestações e sinais de vida do universo; com isso, vai adquirir a força e a vitalidade que emanam do Espírito Universal e se tornar uma pessoa mais afetuosa e consciente, isso é expansão da consciência. Quando atinge o nível de plenitude da consciência ele deixa de ser uma pessoa lúcida em algumas situações, para ser uma pessoa que tem lucidez em todos os momentos e situações e o resultado disso, na pratica é o aumento da inteligência em todos os setores da vida do praticante. Uma pessoal normalmente lúcida não consegue enxergar alem daquilo que vê, escuta e sente, ainda que faça isso com lucidez, mas quem alcança a fixação durante a meditação, quando volta para a vida cotidiana consegue ir alem daquilo que vê, escuta e sente porque terá conhecido e experimentado o outro lado do universo. Isso demonstra que durante a experiência de fixação, a consciência do praticante não deixa de existir; o que acontece é que sua consciência passa a ter uma nova experiência de dilatação, que vai para alem da mente e da matéria, que caminha para uma consciência de plenitude, chamada no taoísmo de Iluminação.
NATURALIDADE
Esse acréscimo de inteligência, no entanto não é a manifestação criada recentemente, a partir de um trabalho feito com a meditação e sim resultado da expansão da consciência primordial que já existia no praticante, mas que estava obscurecida, por isso essa inteligência que desperta se chama ‘luz celestial’, ou seja: quanto mais se aproxima da sua consciência primordial, mais inteligente a pessoa se torna porque volta à condição primordial do seu ser. Por isso, mesmo, Mestres Taoístas Imortais são chamados, vulgarmente, de ‘Homens Primordiais’, passando a impressão de que se trata do ‘homem primitivo’, mas nessa expressão, o conceito de ‘primordial’ se refere à origem do homem. Então, Imortal é o homem que está vivendo na condição da origem, não importa em que época ele viva; para o taoísmo, a Iluminação de uma pessoa representa sua volta à Naturalidade, seu retorno à condição primordial do ser.
Chuang Tzu, um dos grandes filósofos e imortais taoísta, exerceu forte influencia sobre o pensamento e a literatura asiáticos, principalmente os vinculados ao Zen. Espirituoso e criativo, Chuang Tzu figura há séculos entre os autores preferidos dos chineses. Através de historietas, poemas, diálogos e anedotas cheios de sabedoria, às vezes bem humorados, às vezes ásperos, seus textos apresentam uma filosofia de vida politicamente radical e profundamente espiritual.
“Uma vez, Chuang Chou sonhou que era uma borboleta a esvoaçar e volutear aqui e ali, feliz consigo mesma e fazendo o que lhe agradava. Ela não sabia que era Chuang Chou.
Subitamente ele, acordou e já estava ele, o solo e inconfundível Chuang Chou.
Ele não sabia porem, se ele era o Chuang Chou que sonhara ser borboleta ou se era a borboleta sonhando que era Chuang Chou.
Entre Chuang Chou e uma borboleta deve haver alguma distinção! Isto chama-se a transformação das coisas.”