A Estratégia Taoísta ao Abrir e Fechar Portas

Carlos Lima Silva, Professor e consultor de Estratégia Taoísta, Sociedade Taoísta do Brasil

Diferentemente das tradicionais estratégias ocidentais com o seu approach de rompimento, as estratégias orientais propõem, antes de tudo, a integração com o real. Em outras palavras, é no próprio contexto em que estamos inseridos que encontramos as brechas por onde navegar na direção do sucesso. Em vez de procurar o desgaste de romper com o mundo, as estratégias orientais buscam a integração com e na situação, de forma a fluir com o seu desenvolvimento. Assim, nada mais simples do que deixar-se portar pela situação, nada mais simples do que deixar-se levar pela realidade, sem lutar contra ela, mas procurando integrar-se constante e espontaneamente a ela de forma humilde, afetiva e simples. Aí está a naturalidade capaz de solucionar qualquer crise, tornando-a uma oportunidade.

É a velha historia do discípulo que chega para o mestre e diz que não pode meditar porque é jovem demais, ansioso demais, ativo demais, ao que o mestre responde que ser jovem é muito bom e facilita a meditação já que o jovem está cheio de energia. Chega, então, outro discípulo e diz que não consegue meditar por ser casado e ter filhos, ao que o mestre responde que isso é muito bom, pois o pai tem seriedade, responsabilidade e cautela e isso ajuda na meditação. Chega, por fim, o terceiro discípulo que diz não poder meditar porque é velho e tem pouco tempo pela frente ao que o mestre responde que isso é muito bom, pois ele agora pode dedicar-se a si e à sua meditação com sua meditação com afinco, sem restrições. O mestre é um otimista incorrigível? Não. Ele apenas compreende que na natureza de toda crise está a sua resposta, na crise está a sua saída, na crise está o potencial de uma nova situação.

Daí surge uma contribuição importante do pensamento estratégico taoísta: em vez de tentar agir sobre as pessoas e suas vontades individualizadas, é preferível transformar as situações.

Uma das técnicas mais simples e úteis nesse sentido é chamada de “Abrir e Fechar Portas”. Em determinados ambientes algumas portas permitem a passagem e outras a impedem. Isso ocorre exatamente para regular o fluxo de pessoas em determinada direção e é usado por ser muito mais eficaz do que doutrinando as pessoas para usarem determinado caminho em vez de outro. O mesmo pode ser aplicado à vida pratica das empresas e das pessoas. Para promover determinada situação, é preciso abrir as portas que confluem para lá, aumentando o movimento naquela direção; para demover determinada situação, é preciso fechar as portas que confluem para lá, eliminando o movimento naquela direção. Da mesma forma, para motivar uma equipe, por exemplo, é necessário abrir algumas portas e fechar outras. O líder da equipe que integra e cria sinergia é juntamente aquele que não tem preferências pessoais e age sobre as situações em vez de agir sobre as pessoas. Ele é afetuoso sem ser complacente, é simples sem ser simplório, é humilde sem ser subserviente. Enfim, ele é natural sem ser premeditado.

Igualmente, para trilhar o caminho espiritual é preciso abrir as três portas da transformação (meditação), da devoção (às divindades) e da doação (aos outros).

Inevitavelmente surge a pergunta: tudo bem, mas como fazemos isso no dia a dia de cada um de nós? No dia a dia de cada uma de nossas empresas? A resposta é: não sei! Depende!É preciso analisar a situação, determinar onde está o potencial dela, decidir-se por tomar um determinado caminho, operar naquele sentido e continuamente reportar-se à realidade para constantemente adaptar-se a ela.

Em outras palavras, aqui estamos falando de essência, de um principio, que pode ser aplicado a qualquer situação, mas não de cada situação individualizada. É como relações matemático-arquitetônicas que podem ser aplicadas a qualquer projeto arquitetônico, mas que serão usadas diferentemente por diferentes arquitetos em diferentes configurações de terreno.

Algumas pessoas são capazes de usar esses princípios e construírem uma casa, outras precisam contratar um arquiteto.

Ambos os caminhos são eficazes, afinal nem todo mundo precisa saber construir casas.

De qualquer forma, é justamente porque o modelo estratégico taoísta se atém à naturalidade e ao fluir que nele não há o rompimento e o heroísmo característicos do modelo ocidental. Em vez disso, esse modelo procura constantemente alinhar o potencial, direcionamento e propósito de uma situação com o potencial, direcionamento e propósito do individuo (ou empresa), fortalecendo um no outro.

Em uma metáfora esclarecedora: um escultor talentoso como Rodin costuma observar uma peça de mármore, identificando o seu direcionamento, potencial, por assim dizer. Dependendo de sua configuração, a peça se presta a determinado tipo de escultura como as formas sensuais de uma mulher ou a severidade de uma imagem heróica. A esse potencial, direcionamento e propósito intrínsecos da peça de mármore, ele alinha o seu direcionamento, propósito e potencial pessoal de grande escultor. O resultado: obras de arte!

Estamos convidando você leitor a fazer obras de arte! A técnica é simples e usando-a, será possível solucionar qualquer crise, já que, identificando o potencial, direcionamento e propósito da situação, ela é oportunidade. Ao alinhá-los com o potencial, direcionamento e propósito do individuo ou empresa, produzimos resultados eficazes, pois as portas que mantemos abertas e as que intencionalmente fechamos criam cada vez mais congruência a ponto de não haver, por assim dizer, outra possibilidade de desfecho que aquela na qual estamos investindo.

Agora, quando tentamos esculpir a situação sem o mármore, quando tentamos impor um modelo ideal à realidade sem buscar nela um potencial a ser desenvolvido, perdemos a naturalidade enfrentamos o desgaste de basearmos a nossa atuação na força, efêmera que é.

O caminho da naturalidade pode ser menos emocionante, mas certamente também é muito menos desgastante Seu desenvolvimento pode ser mais lento, mas certamente é mais consciente. A natureza vem dando certo há tanto tempo – milhões de anos. Porque não usar essa tecnologia desenvolvida a partir da sua observação e comprovada em mais de cinco mil anos de aplicabilidade em nosso favor?

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