A Mitologia Chinesa diz que dentro de cada um de nós há um pedacinho de estrela.
Jornal Tao do Taoísmo – n. 15 índice
A mitologia chinesa diz que em tempos imemoriais houve um grande dilúvio. No dilúvio, morreram todas as pessoas da terra, com exceção de duas: um homem e uma mulher. O homem era Fu Xi, que concebeu o Yi Jing (I Ching) e a mulher se chamava Nu Guo ou Lu Wa. Algumas versões deste mito dizem que Fu Xi e Nu Guo eram irmãos. Outras versões dizem que eles eram marido e mulher. A verdade é que Fu Xi e Nu Guo se casaram e procriaram.
A partir destas duas figuras simbólicas tecem-se duas linhagens de mitologias e de conhecimentos que representam a Tradição Patriarcal de Fu Xi e a
Tradição Matriarcal de Nu Guo. Todo o conhecimento do Yi Jing (I Ching) deriva de Fu Xi, bem como a matemática, os números, a astronomia, a metafísica: uma força patriarcal, uma força Yang. De Nu Guo nasce a Tradição Matriarcal que gerou muitas lendas. Uma dessas lendas narra que Nu Guo foi a responsável por reestruturar e restaurar a desordem que acontecera na natureza.
Antes de acontecer o cataclismo na Terra, houve uma grande guerra entre os líderes do mundo. Depois de muitas mortes, vitórias e derrotas, finalmente um líder venceu o outro. Aquele que perdeu a guerra, irado por sua derrota, resolveu bater com sua cabeça na coluna de sustentação do céu. Em linguagem simbólica a coluna era como a base de um cogumelo, o Céu. O Céu então desabou, tudo ficou escuro e aconteceu a grande tempestade, o grande cataclismo. O mar subiu. A Terra partiu-se e afundou em si mesma. As pessoas morreram, o vitorioso e o derrotado também. Restaram apenas Fu Xi e Nu Guo que fugiram para o alto de uma montanha e, assim, conseguiram sobreviver.
Nu Guo era extremamente sábia e resolveu restaurar o céu. Para tanto, colheu pedras de cinco cores, dos cinco elementos: vermelha, branca, amarela, azul e preta. Usou o fogo para destilar os pigmentos e processar as pedras. Quando as pedras ficaram prontas, Nu Guo colocou-as uma a uma no céu, tapando todos os buracos. Ela havia processado exatamente 100 pedras e usou 99 para restaurar a abóbada celeste. O céu ficou repleto de estrelas. As nuvens, então, desapareceram, o mar desceu e o mundo pacificou-se. Criou-se uma nova civilização.
Nu Guo não somente teve filhos com seu marido Fu Xi, mas fez do barro homens, sempre usando as cinco cores, representando as cinco raças. Como vimos, sobrara uma pedra. Essa pedra foi colocada no coração de cada ser humano que nasceu posteriormente. Assim, sentimos uma angústia, uma tristeza ao olharmos para o céu, querendo, com certeza, estar lá em cima. É que dentro de nós existe um pedacinho daquela pedra que teria sido uma estrela se colocada no Céu por Nu Guo. Desde os tempos imemoriais, todos os homens fazem uma imensa força espiritual para conseguirem se iluminar, ascensionar, subir para o céu e se tornar uma estrela…
Portanto, “retornar ao caminho do Céu” significa retornar ao caminho da grande natureza, da grande naturalidade. Através da observação das estrelas, se percebe a ordem do tempo. O conceito do tempo foi tirado a partir do movimento dos astros. “Retornar ao Céu” é retornar a grande ordem cósmica. O grande sábio é aquele que recupera o estado do Absoluto, conclui o seu trabalho e retorna a essa grande naturalidade, como as estrelas que decoram o céu. Dessa maneira, ele pega a sua pedrinha, seu pedaço de estrela e vai para o céu: torna-se uma estrela.
As estrelas no céu são as referências para todos os homens. Nós nos orientamos por elas para conhecermos os conceitos de tempo, de estações, de direção, de todas as coisas. O mestre ascensionado se torna uma estrela que passa a ser a orientação, a referência, a diretriz para os homens que ainda estão na Terra.