1976 – John Blofeld, na introdução, ao livro “Taoísmo, o Caminho para a Imortalidade”, primeira descrição abrangente do taoísmo como um todo publicada no Brasil (ed. Pensamento).
“O taoísmo – venerado, misterioso, encantadoramente poético – nasceu em meio às brumas que escondem os primeiros passos da civilização e é a expressão imorredoura de um antigo modo de vida praticamente esquecido pelo mundo.
Agora que o vagalhão vermelho tragou sua pátria de nascença, quem poderá antever seu destino futuro ou apontar que resquícios dele hão de sobreviver? Pessoas que reconhecem o caráter divino da natureza e aspiram ao triunfo do espírito ante o tenebroso assedio do materialismo nele encontrarão um tesouro onde, a par de finas jóias de valor intrínseco apenas modesto, faíscam perolas inapreciáveis e jades translúcidos.
Folclore, ciências ocultas, cosmologia, ioga, meditação, poesia, filosofia quietista, misticismo exaltado – o taoísmo tem tudo isso. Tais são os dons acumulados pelos filhos do Imperador Amarelo ao longo de nada menos que cinco milênios. Os menos significativos constituem o estofo multicolor do mito e da poesia; o mais precioso aponta para a luminosa consecução do destino espiritual do homem, mediante um ensinamento que lhe faculta ascender do estado mortal para o imortal e ergue sua morada acima da dos deuses!
Com a única exceção da filosofia desses deleitosos sábios, Lao Tzé e Chuang Tzu, é espantoso que tão poucas referências ao taoísmo possam ser atualmente colhidas nos escritos ocidentais. Há traduções do Tao Te Ching de Lao Tzé e a obra de Chuang Tzu começa a despertar parte da atenção que lhe cabe… mas, e o resto?”
2001. Bem, o resto… O “vagalhão vermelho” a que Blofeld se referiu não expirou de todo esta cultura milenar, apesar da destrutiva voracidade de revolução cultural. A tradição espiritual do taoísmo, com seus templos e suas artes, renasce na China continental, segue resguardada em sua forma mais pura em Taiwan, Singapura e Hong Kong, assim como desponta no Ocidente, onde tem atraído a atenção de cientistas, terapeutas, intelectuais e daqueles que buscam um caminho de ascensão espiritual.
Aqui no Brasil, graças ao trabalho pioneiro de Wu Jyh Cherng – sacerdote taoísta Kao Kon Fa Shi (Alto Oficio, Mestre da Lei), fundador da Sociedade Taoísta do Brasil, autor de diversos livros sobre artes taoístas e tradutor do Tao Te Ching, I Ching e de outros clássicos de cânon taoísta – a quinta-essência do taoísmo, a linhagem dos grandes mestres, tem sido revelada em toda a sua abrangência através de textos, ensinamentos orais, práticas místicas e litúrgicas.
A experiência inovadora da Sociedade Taoísta do Brasil de revelar no Ocidente este conhecimento milenar, preservado em sua tradição, conquistou o reconhecimento até mesmo da Ordem Ortodoxa Unitária (órgão governante do taoísmo mundial, sediado em Taiwan). O interesse crescente pelo taoísmo também tem levado a uma participação maior no ritual de iniciação, que a Sociedade promove duas vezes por ano.
O tremor pessimista de Jonh Blofeld quanto a sobrevida do taoísmo após a devassa comunista não vingou, e a jóia da sabedoria espiritual chinesa segue intacta, e revigorada.