água

Luiz Carlos Joels Coordenador Geral de Meio Ambiente/ Ministério da Ciência e Tecnologia Membro da Comissão Brasileira de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 lcjoels@yahoo.com

Todo colegial sabe que cada ser vivo tem água em seu corpo. Todo agricultor sabe que sem água não há colheita. Toda cidade sabe que o bem estar depende de água. Todo mundo tem sede.

O que as pessoas muitas vezes não sabem é que apenas 0,34% da água existente no planeta está disponível para o uso dos seres vivos em rios, lagos e lençóis subterrâneos de fácil acesso. Os outros 99,66% são os oceanos de água salgada, as geleiras e calotas polares, as águas subterrâneas de difícil acesso.

E ainda assim as águas são maltratadas. Nelas são jogados o lixo e o esgoto, deixa-se o petróleo vazar e o agrotóxico escorrer. Assim é criado um tipo de escassez, a de águas boa qualidade, água que se pode beber, na qual se pode banhar. Metade das fontes de abastecimento de São Paulo está poluída por fósforo, cuja principal fonte são os sabões em pó, o nitrogênio, oriundo dos esgotos e da agricultura.

Também se desperdiça água na agricultura irrigada sem técnica adequada, nas torneiras vazando, nas piscinas e lava-carros.

Aumenta a evaporação e a água vai pelos céus para outros lugares.

Está criada outra escassez, a de quantidade, que eventualmente leva ao conflito entre os vários tipos de demanda. E a desertificação avança em lugares onde ninguém podia imaginar que isto ia acontecer, como o Rio Grande do Sul.

E não se permite haja uma recuperação. A disponibilidade da água está ligada a processos ecológicos, que também estão ameaçados. As florestas, que ao aparar a chuva e possibilitar sua infiltração nos solos, permitem o ciclo normal da água na superfície do planeta, já desapareceram em muitas partes. Da Mata Atlântica, que ainda protege os mananciais das primeiras cidades do país, restam de 7%, e o Rio de Janeiro é o estado em que ela está sendo destruída com mais rapidez, nos últimos anos. Um estudo recente mostra que para regularizar o ciclo de água dos rios que abastecem Campinas, Piracicaba e cidades próximas, é necessário plantar 200 milhões de arvores nas margens destes rios, numa área que corresponde a apenas 6% do Estado de São Paulo. Se explorarmos linearmente este número, seria necessário plantar mais de 3 bilhões e 300 milhões de árvores no estado!

Uma bela manha, céu claro, sem nuvens, o Brasil acordou e ficou sabendo que não há água suficiente para gerar energia nos níveis que estávamos usando. Passam-se alguns dias e outra notícia cai como um raio: não é só no Nordeste que está faltando água para uso humano, a escassez chegou a São Paulo e outras cidades do Sudeste.

Ato contínuo, erguem-se as mãos para os céus e pede-se que São Pedro colabore, fazendo chover o suficiente para encher os rios e reservatórios. Espero que São Pedro não atenda aos pedidos nos prazos solicitados, pois aí teremos enchentes.

A ONU prevê que a disponibilidade de água potável diminuirá drasticamente este século e dentro de 25 anos, 1/3 da população mundial terá problemas de abastecimento de água, se persistir o atual modelo não sustentável de utilização de recursos naturais, e em especial da água. Deverá também aumentar significativamente o número de doentes e mortos por doenças causadas pela má qualidade da água.

Ninguém sai por aí maltratando o próprio corpo. Ninguém deveria sair por aí maltratando as águas. É preciso usar as águas de maneira sustentável. A Agenda 21 brasileira propõe que seja favorecida a mobilização social para a proteção local dos recursos hídricos. Você pode agir em seu cotidiano, economizando água, evitando poluí-la. Você pode zelar pela boa utilização da água em seu edifício ou seu condomínio.

Planta uma árvore em seu sítio e estimule seus vizinhos a fazê-lo também. Aja agora para não lamentar depois.

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