Newton Rezende
professor do curso A Arte da Guerra
Paz – esse é o objetivo principal do brilhante tratado escrito por Sun Tzu, há 2.500 anos, na turbulenta época dos Estados Guerreiros na China.
Como um estudo da estrutura de organizações em conflito, “A Arte da Guerra” se aplica tanto a atritos do dia-a-dia, como a confrontos de calibre mundial. Seja qual for a sua dimensão, a origem do conflito é encontrada no coração de cada ser e em labirintos mentais, provocando reações e até atitudes violentas. Defender seu ponto de vista sobre um assunto qualquer não justifica o atrito. A batalha representa a perda da virtude – a entrada no mundo do medo e da agressão – por isso, uma reflexão profunda sobre a raiz do conflito é a chave para a solução.
A briga por territórios, conseqüência de uma necessidade, é em geral a própria base da disputa. Como as pessoas não estão sozinhas no mundo, muitas vezes umas são colocadas frente a outras e, devido a pontos de vista divergentes, atritos acontecem. Com o embate, você sempre perde alguma coisa a um custo muito alto. O melhor é tentar satisfazer necessidades pessoais com o mínimo de desavenças.
Mas como realizar e satisfazer nossos anseios e ao mesmo tempo evitar os conflitos? Os objetivos devem ser alcançados através de caminhos adequados e trabalho. Os mestres taoístas, principalmente Lao Tsé em seu clássico Tao Te Ching – Livro do Caminho e da Virtude – nos ensinam a alcançá-los de uma maneira quase perfeita, ou seja, sem desgastes, sem fazer inimigos, com poucas perdas e com o máximo de sucesso.
Filósofo-estrategista, Sun Tzu abordou a questão do conflito de uma maneira muito mais racional. Também mostrou que a sua ampla compreensão pode levar tento à solução da desavença como à decisão de evitá-la completamente. Ele tratou com profundidade, clareza e abrangência os múltiplos aspectos que envolvem o conflito – a competição, a organização, o gerenciamento, o autoconhecimento, a criatividade, a comunicação, a informação e a liderança – com o intuito de buscar para as intermináveis guerras que assolavam a China.
Com grande sabedoria, seu tratado “A Arte da Guerra” nos ensina a restaurar o equilíbrio pessoal e a buscar a integração com o mundo; completar a fluidez do céu (realidade dinâmica), da terra (realidade mais estática, menos dinâmica) e da natureza, e nos adaptar ao potencial das situações, agindo da forma apropriada para cada circunstância. Para ele, vivemos no mundo integrados a tudo e a todos, por isso ao construir nossa civilização, devemos observar com isenção a ordem natural das coisas e agir de acordo com os ciclos, o que nos conduzirá a uma sintonia com o processo universal.
Ele enfatiza que a forma de se evitar os conflitos internos é agir em harmonia com nossos sentimentos mais profundos e que a adaptação à realidade nos afasta dos conflitos externos. Esse é o caminho dos sábios: equilíbrio pessoal e integração com o Universo. Através de conceitos milenares e essenciais, Sun Tzu detalha diversas possibilidades para contornarmos os conflitos e guerras que nos cercam ou, quando for inevitável, entra na luta. Também nos ensina a dar à vida um valor precioso e a conduzi-la com naturalidade, entusiasmo, eficiência e eficácia.
Freqüentemente, as pessoas entram numa guerra particular com elas mesmas, com os outros e com o mundo a sua volta. As crises são existenciais, místicas, materiais, e têm origem em frustrações, competição crescente, velocidade de informação, ansiedade, estresse. Sun Tzu e outros mestres taoístas nos oferecem um caminho para transformar esses conflitos em paz interior e harmonia externa. E nos fazem entender o caminho, Tao, para conseguirmos atingir nossos objetivos com equilíbrio, assim como saber as virtudes, Te, necessárias para trilhá-lo.