As práticas do silêncio como o Tai Chi Chuan e a meditação são fundamentais, pois estamos muito distantes do silencio interior
Bruno Kelson Professor de Tai Chi Chuan Sociedade Taoísta do Brasil
A prática do Tai Chi Chuan se caracteriza por movimentos lentos e padronizados acompanhados de uma respiração suave e profunda. A finalidade é desenvolver o Qi (energia) no corpo e eliminar os bloqueios energéticos para que a energia possa fluir livremente. Com isso, a defesa imunológica é fortalecida e o organismo fica menos propenso a doenças.
Para atingirmos este estágio, precisamos entrar num estado de silêncio interior, estarmos receptivos a todas as informações que nos chegam do Céu e da Terra. Portanto, é necessário compreender o conceito do vazio, do silêncio interior.
O vazio, o espaço, o silêncio, é como a ausência que permite a presença de todas as coisas, um vazio que abrange todas as formas.
Se na sala em que você se encontra não houvesse um espaço, você não poderia estar dentro dela. Antes de entrar dentro dela, o espaço já existia; durante a sua permanência, o espaço continua a existir. Quando você se retirar, restará o espaço. Esse vazio, esse espaço, permite a existência, a presença e a manifestação de todas as coisas. Por trás de todos os sons que escutamos, existe um silêncio.
O silêncio não é ausência do som, mas a potencialidade do som. Como vazio, não é a negação da forma, mas o vazio que permita as formas existirem. Como espaço, não é a negação da presença de algo, mas a potencialidade da presença das coisas – uma potencialidade que está na origem de tudo. Quem está no silêncio pode escutar todos os sons; que está no vazio pode abraçar todas as formas. Aquele que busca encontrar o Tao (o vazio), busca viver simultaneamente o vazio e a forma. Procura encontrar ao mesmo tempo o silêncio e o som, enxergar o que tem uma forma e o que não tem forma alguma.
Os mestres dizem que o caminho do Tao é possuir um coração que se assemelha ao céu. O céu é um imenso espaço acima de nós, com alguns pontinhos (as estrelas), que piscam para nós. Há muito mais espaço do que estrelas. O nosso coração também deveria ser assim, bastante espaçoso. Este espaço vazio dentro de nós é a tolerância, a receptividade, o silêncio, a quietude, a paz interior. As poucas estrelas a brilhar dentro de nós seriam a síntese, o fundamento de nossa vida, aquilo que nos orienta e nos guia. Não podemos nos encher de estrelas. O que mais precisamos é daquele imenso céu vazio, o espaço. Quando se tem muitos valores, não se sabe quais seguir.
Quanto menos elementos você tem dentro de si, mais próximo está da unidade, da síntese. A síntese da prática do Tai Chi Chuan, por exemplo, se baseia na concepção taoísta de que existem duas energias opostas, complementares e dinâmicas em todas as formas da natureza. São elas Yin e Yang. Se dentro do organismo essas duas formas de energia se desequilibram, o corpo se torna mais suscetível a doenças.
O final das coisas é sua aparência, sua forma externa. No fundo, todas as coisas têm um ponto de convergência. Isso nos torna mais tolerantes, abrangentes e receptivos. A essência é sintética, ao passo que o fim é complexo. As praticas do silêncio como o Tai Chi Chuan e a meditação são fundamentais, pois estamos muito distantes desse silêncio interior, desse vazio absoluto.
- Bibliografia: Iniciação ao Taoísmo – volumes 1 e 2 Wu Jyh Cherng