Oscar Maron Professor e Consultor de Yi Jing (I Ching) Flor de Ameixeira Editor do jornal “Tao do Taoísmo”
Jornal Tao do Taoísmo – n. 19 índice
O sábio Taoísta Chuang-tzu (369-286 a.C.), sempre atual, já dizia: “Nos dias de hoje, o que se deve fazer, e em quem confiar? O que se deve evitar e o que podemos esperar? O que se deve buscar? O que se deve deixar de lado? O que se deve aproveitar e o que desprezar?”.
O filósofo contemporâneo francês Edgar Morin, na introdução do livro “A Religação dos Saberes: o desafio do Século XXI”, relança Chuang Tzu: “Como nos movimentar para viver o presente e atuar de maneira mais eficaz com o objetivo de criar um futuro harmonioso?”
O homem age em função da observação do real. Existem, porém, mudanças na alma que não percebemos e, a todo o momento, ao redor de nós há uma infinidade de percepções, sinais e acontecimentos sobre os quais não refletimos. São fatos aparentemente insignificantes, que possuem uma ampla gama de informações interligadas, sem apresentar, de maneira isolada, nada de suficientemente distinto.
“É evidente que a ausência de futuro torna o presente frágil”
Estamos no presente. Só o desenrolar dos fatos pode fornecer a real dimensão dos acontecimentos e ações. A mente inquieta distorce a nitidez da percepção, projeta uma infinidade de fantasias e, constantemente, cria ilusões na hora de agir da forma como, naquele momento, “percebemos” possível.
Há sempre uma relação incerta entre o nosso espírito e o universo exterior, pois a ação de perceber-se, e perceber o mundo, modela a realidade. O produto depende da qualidade do produtor.
A análise dos dados de nossas vidas necessita uma abordagem ampla. A vida é complexa e dinâmica. É preciso conjugar a inteligência pessoal com a inteligência das mutações. Processos, processadores, funcionamentos, movimentos, transformações, evolução, formam a “inteligência da complexidade”, onde o fato isolado é transgredido pela composição de uma trama.
Contemplar a totalidade dos processos em curso e praticar o seu movimento é a essência do Yi Jing (I Ching). A compreensão do sistema observado (a complexidade) é da mesma natureza que aquela do sistema observador (a inteligência). São, um e outro, organização.
O Yi Jing (I Ching) é o código que exprime a organização do universo. Revela o Caminho do processo transformador. O oráculo é mais do que um instrumento, ele nos “instrumentaliza”, somos capazes de agir “nele”, é um exercício da consciência, uma ponte entre o presente e o futuro.
O Oráculo do Yi Jing (I Ching) possibilita estimar o campo de forças que constituem a situação potencial, para poder a elas se antecipar. A consulta ao Oráculo permite representar, elaborar ou conceber, escolher ou selecionar:as três funções fundamentais de um sistema de decisão inteligente.
Dentre todas as escolas de Yi Jing (I Ching), a linhagem original do método Flor de Ameixeira, dos Mestres Taoístas, destaca-se pela capacidade de análise. Nesse método oracular, os textos clássicos são apenas mais um elemento de análise entre tantos outros. Na consulta, são utilizados trigramas, hexagramas, ciclos de estímulo ou inibição dos 5 movimentos, dados da astronomia clássica chinesa, sinais do cotidiano, palavras, a estrutura do tempo, imagens, números e percepções externas. A resposta envolve três hexagramas, que representam a situação atual, a dinâmica da transformação e a perspectiva futura. Tudo então pode ser relacionado, avaliado e interpretado: o momento pessoal, a situação externa e a circunstância dinâmica do homem e da história.
O Yi Jing (I Ching), ao nos responder, permite transformar o ininteligível percebido em inteligível concebido. O oráculo representa uma situação e elabora hipóteses e estratégias, nos permite “exercer a ação de conhecer a ação” e nos ajustarmos a essa representação de forma previsível e controlável. Conhecer o processo nos permite controlar a ação. Ao desvendarmos a dinâmica e o desenrolar da situação, podemos nos apoiar no potencial da ação e explorá-lo continuamente, conforme as circuns-tâncias encontradas.
Compreender as tendências do presente e participar com eficácia do processo da Realidade é o grande desafio do Homem e do Oráculo. Os sábios são capazes de perceber o processo que estão vivendo e observar a dinâmica da vida. Percebem se o momento é de consolidação da força Yang (expansão) ou da força Yin (recolhimento). Isso nos permite abrir novos horizontes de compreensão, atuação e eficácia, para tomarmos as atitudes ade-quadas no presente e criarmos um futuro harmonioso. O livre arbítrio só pode existir com a plena consciência da realidade. Um Yin, um Yang, eis o caminho.