Wu Jyh Cherng Sacerdote Taoísta Ordem Ortodoxa Unitária Presidente da Sociedade Taoísta do Brasil
A Natureza Celestial está no homem. A natureza humana está na circunstancia. O ser humano possui duas naturezas: uma Celestial e outra Humana. Natureza Celestial é uma qualidade interior que sempre correspondendo ao céu, ao destino cósmico. Natureza Humana é uma qualidade humana que nem sempre corresponde ao Destino Celestial, mas está sempre correspondendo às circunstancias do Homem, que são os estímulos e provocações momentâneas.
O homem tanto poderia estar vivendo numa natureza celestial quanto numa natureza humana; tanto poderia estar vivendo a natureza da infinitude quanto a natureza da circunstância. Quando o ser humano está correspondendo à Harmonia Cósmica, quando está com sua consciência no nível da Natureza Celestial, tem uma qualidade serena, pacifica e lúcida. Dessa maneira, quanto a natureza do céu entra em ação, você age em conjunto com ela; quando a natureza do céu entra em quietude, você se aquieta em conjunto com ela.
Mas, quando não está correspondendo à Harmonia Cósmica, quando está com sua consciência no nível da Natureza Humana, tem uma qualidade de personalidade que, dependendo de como as outras pessoas ou acontecimentos externos se apresentem, irá responder de maneiras diferentes, conforme seu temperamento. Esse modo de reação, qualquer que seja, vem a ser o contrario da reação do homem que esteja com a consciência no nível da Natureza Celestial. Nesse nível o homem jamais se desarmoniza, mesmo quando é estimulado ou provocado por acontecimentos circunstancias.
A natureza celestial está no homem e a natureza humana está na circunstancia. A natureza humana são os sentimentos, as emoções, os pensamentos e os sentidos do ego, que estão sujeitos a interferências externas e essa é a razão da natureza humana ser sempre circunstancial.
Exemplo: uma pessoa que tenha tendência para melancolia, quando passa por uma circunstancia externa de sofrimento, repressão ou dificuldades tem sempre como reação se integrar automaticamente com o meio ambiente de forma melancólica. Dessa maneira, percebe-se que os sentimentos, pensamentos, sensações e sentidos humanos são baseados no ego e o ego sempre funciona no elemento dualista de “eu e os outros, eu e o mundo”, o “eu” sempre está como opositor do mundo ou do outro. Nas oposições, como o yin e o yang, um sempre é o provocador do outro, então o ego, quando é tomado por qualquer sentimento, pensamento, sentido ou sensação, ou seja, sob uma provocação externa reage sempre de um modo que é a sua natureza e essa natureza se chama natureza humana.
Mas o homem também possui outra natureza, chamada natureza celestial. A natureza do céu também está no homem e ela é uma consciência lúdica que flui de acordo com a naturalidade das coisas, onde não existe a presença e a força do ego. O homem que é capaz de reencontrar ou de viver essa natureza do céu em si mesmo será uma pessoa que naturalmente transcende das provocações e das circunstancias externas. Esse é o homem da infinitude, da eternidade porque o infinito e o eterno são, exatamente, o contrario da circunstancia, que é algo impermanente.
O I Ching deixa muito claro que todas as coisas do mundo manifestado são constantemente mutáveis, então o homem que vive na impermanência, nas constantes modificações circunstanciais está também em constante modificação. Se a consciência do homem passeia no ego dualista que sofre ou se altera a todos os momentos, de acordo com as circunstancias, então o tempo inteiro ele sofrerá as perdas e sofrerá das impermanência, o que vai gerar as frustrações, vai criar os apegos e levar o homem à loucura.
Uma pessoa, então, tanto poderia ter sua vida totalmente voltada para a natureza humana, quanto poderia tentar transcender e ter sua vida voltada para a natureza celestial. Quanto mais essa pessoa se aproxima da natureza celestial, mais ela será desapegada porque deixará as coisas fluírem com maior facilidade, terá menos apegos e naturalmente menos frustrações porque espiritualmente ela se apóia na Constancia e não na circunstância.
A todo instante as circunstancias estão passando, modificando-se e todos têm sua vida apoiada nas circunstancias terão também suas vidas passando e se modificando. De modo contrario, aqueles que têm sua consciência apoiada na infinitude não terão nada a perder porque apesar de tudo estar em constante transformação, essa transformação é sentida e considerada como algo absolutamente natural.