Tao, o Caminho, leva à absoluta iluminação, portanto é a mais alta realização Fa, a Lei leva ao absoluto equilíbrio, unindo o individuo ao universo Su, a Arte, permite uma existência em harmonia com o mundo
Wu Jyh Cherng Sacerdote Taoísta Ordem Ortodoxa Unitária Presidente da Sociedade Taoísta do Brasil
O taoísmo é caracterizado pela integração entre ciência, filosofia e espiritualidade e é uma das mais antigas tradições espirituais vivas. Embora não tenha sido fundada por uma pessoa especifica, nele figuram grandes mestres, como Fu Xi, que pode ter vivido de 7 mil a 30 mil anos; personagens históricos que viveram há aproximadamente 5 mil anos. Na atualidade, os patriarcas mais importantes são o Imperador Amarelo Huang Di, que viveu há 5 mil anos; Lao Jun, conhecido como Lao Tse, que viveu há 3 mil anos; e o Mestre Celestial, que viveu há 1900 anos.
Por ser uma tradição de revelação do sagrado, o taoísmo é conhecido como Tradição Ancestral, e ensina sobre a solidariedade entre o homem e a natureza, ou a interação entre o Universo e a sociedade humana; o caráter cíclico do tempo e o ritmo universal da lei do retorno; e o culto aos ancestrais, aos Céus e Consciência Universal.
Dentro do taoísmo existem três níveis de práticas místicas: Tao, Fa e Su. Astrologia, Feng Shui, I Ching e oráculos, medicina, Tai Chi, Qi Kong e Tui Na estão incluídas em Su, as artes. Acima desta há o Fa, a lei, que engloba conhecimentos ritualísticos e mágicos, os mantras, os cantos, os ritos e cerimônias, as mentalizações e visualizações – os símbolos e ferramentas sagradas que funcionam de acordo com a lei cósmica. E mais acima existe o caminho, o Tao, que tem na Meditação do Silêncio o caminho espiritual por excelência.
Nessa meditação, também chamada Xin Zhai Fa, a pessoa entra diretamente no seu âmago espiritual através do silêncio, do sopro, ou luz interior. O que caracteriza essa técnica de meditação é que conduz diretamente ao âmago espiritual e a conseqüente iluminação.
No Ocidente, a palavra “meditação” é banalizada Hoje em dia, tudo é meditação, seja com mantras, cantos, ou símbolos. Para um taoísta, a meditação, que é o Tao, o Caminho, não deveria requerer o acompanhamento do símbolo, da palavra, do ego e da imagem. Símbolos sagrados, por pertencerem a um estado manifestado, ainda são símbolos. No Tao, é preciso ir além de tudo que é imaginável para conseguir libertar-se das imagens. Som, mente, audição, corpo, vontade, intenção – tudo é finito. E como alcançar a infinitude da vida e da consciência através de ferramentas finitas?
Diante dessas afirmações, poderíamos perguntar: “Então, essas ferramentas não têm valor?”. Sim, têm valor, mas como ferramentas apenas, que ajudam na obtenção do perfeito equilíbrio para se realizar o caminho do infinito. São necessários as porque nem todos “entram no infinito” de uma hora para outra. No momento em que muita gente senta para medita, a cabeça não pára e o corpo incomoda. Aí é preciso voltar à humildade, recitar o mantra para ajustar o eixo espiritual e usar o canto para trabalhar o sentido emocional. Ou seja: tem que se recorrer às ferramentas, ao Fa e ao Su.
A canção sagrada trabalha com o coração e permite que a emoção flua melhor e fique mais equilibrada. Da mesma forma, quanto mais se recitam e se treinam os mantras, mais concentrada a mente se torna. Quanto mais se pratica as artes de respiração, como Tai Chi e Yoga, mais o corpo se harmoniza. E tendo corpo, emoção e mente harmonizados, o interior fica harmonizado. E nesse momento é mais fácil cruzar as pernas em posição de lótus e entrar em êxtase. Mas para isso acontecer, é preciso antes preparar o corpo, coração e mente.
Obviamente, existem pessoas privilegiadas que no primeiro dia de meditação já conseguem entrar em êxtase sem precisar qualquer preparo anterior. Mas a maioria de nós não é assim, e através do Fa invocamos a força dos Mestres Espirituais, da Egrégora das Divindades, para termos mais proteção.
O trabalho nos três níveis, Su, Fa e Tao tem que ser simultâneo É preciso trabalhar com o Su, para adquirir conhecimentos que vão facilitar sua relação com o mundo e lidar melhor com ele.
O Qi Kong faz parte do Su: é uma arte que trabalha com a respiração, harmoniza a saúde e dá a base necessárias para se praticar a meditação. Muita gente não consegue meditar por não ter saúde física e, quando senta por 10 minutos, sente tonturas, dores, enjôos, etc. Uma pessoa assim precisa buscar saúde para conseguir avançar na pratica de meditação.
O taoísmo também tem no Su oráculos, como I Ching e a astrologia, que levam a uma melhor compreensão do destino: explicam o que está acontecendo com você, quais são as perspectivas da sua vida ou, diante de uma situação difícil que você não sabe resolver e sem um Mestre ou Homem Sábio por perto para lhe dar assistência, ajudam a encontrar a solução. Nessa hora, os ensinamentos dos oráculos podem apontar o caminho certo para você lidar melhor com a situação, enfrentando-a corajosamente, ao invés de virar-lhe as costas covardemente. Isso é trabalhar com o destino. Todas as outras artes incluídas em Su contribuem para um maior equilíbrio em algum aspecto da vida.
Também é preciso trabalhar com o Fa, a lei, para manter sintonia com os seres que estão no nível espiritual. Os ritos e cerimônias ajudam na harmonização com a força espiritual que nos cerca, orienta, dá cobertura e ilumina.
E, finalmente, é preciso trabalhar essencialmente com a auto-realização, o Tao, que vem a ser a própria transformação interior através da Meditação do Silêncio, única forma de realizar a verdadeira alquimia interior. A meditação é a coluna central do taoísmo, por isso sempre enfatizamos que é a mais importante técnica e a que permite alta realização.
Arte, lei e Caminho – o taoísta utiliza estas três praticas porque uma parte dele vive no mundo, outra parte busca o equilíbrio junto ao universo e uma terceira parte procura a transcendência e o alcance da absoluta iluminação. Assim, ele consegue caminhar com equilíbrio e pode ter uma chance de se realizar dentro de uma margem mais suave e mais equilibrada, porque o seu caminho vai ficar mais plano e menos tempestuoso.