Carta Aberta

AOS SACERDOTES DO PRESIDENTE DA SOCIEDADE TAOÍSTA

WU JYH CHERNG

Essa mensagem foi escrita para transmitir meu modo de pensar. Considero uma Carta Aberta aos Sacerdotes. Também gostaria que outras pessoas tomassem conhecimento do seu teor porque é importante para todos. Wu Jyh Cherng

OLHAR PARA DENTRO DE SI MESMO

Acredito que, como praticantes do Caminho de Restauração do Tao, é essencial criarmos o habito de examinar constantemente as nossas consciências. Um praticante do Tao, permanentemente, fazer reflexões sobra a sua realidade, a sua situação interior e sobre si próprio. Essa reflexão é o próprio Caminho Espiritual: olhar para dentro de si e se ver. Eu gostaria que vocês fizessem isso continuamente e tivessem sempre em mente que todas as ações da vida de uma pessoa são sempre criadas por ela mesma, ou seja: nós não deveríamos, jamais colocar fora de nós – seja numa circunstancia externa ou mesmo numa outra pessoa – a responsabilidade pelas situações que vivemos em nossa vida. Esse olhar para dentro de si mesmo é uma postura de trabalho espiritual.

Todos nós vivemos momentos de satisfação e de insatisfação; todos nós sentimos alegria, tristeza, contentamento e ira. Esses sentimentos e emoções nascem do nosso coração, da nossa mente, por isso nós precisamos, constantemente, refletir e fazer duas perguntas a nós mesmos, quando no flagramos nutrindo sentimentos de ira, tristeza, decepção, satisfação ou insatisfação. A primeira é: ‘de onde vêm esses sentimentos?’, lembrando que muitas vezes, que quando nós nos perguntamos isso, costumamos responder, dizendo ‘o culpado foi Fulano, vou lá tomar satisfações co ele!’. Mas isso não é verdade; como já dissemos antes, o sentimento vem de dentro de nós. Se isso ocorre, então, devemos completar a pergunta: ‘por que eu sou assim, por que isso está acontecendo comigo, por que eu estou tão insatisfeito?’ Agir assim é investigar, é refletir sobre a sua realidade.

Em seguida, você faz a segunda pergunta: ‘o que está faltando em mim, que não me permite trabalhar esses sentimentos? o que preciso fazer para que essas satisfações ou insatisfações possam ser bem trabalhadas e transformadas, até que eu me torne, interior e exteriormente, uma pessoa mais harmoniosa, tolerante, compassiva e repleta de esperança pela vida e pelo caminho que está à minha frente?’. Você já imaginou o que seja viver sem esperança, sem convicção, sem harmonia e sem tranqüilidade? Se uma pessoa se diz praticante do Taoísmo e vive desse jeito, ela não está no Taoísmo, ela está longe do Taoísmo porque seu coração não está no Taoísmo. É preciso fazermos sempre nossas reflexões, evitando responsabilizar fatores externos por situações de nossa inteira responsabilidade.

CONFIANÇA NO SEU CAMINHO

Todos vocês já leram o livro ‘Discussão Sobre Sentar e Esquecer’ e lembram do titulo do primeiro capitulo – Confiança e Respeito. Confiança é fá, confiança é acreditar naquilo que você está fazendo, é acreditar que o Tao está na sua essência e você é plenamente apto para a grande jornada de encontrar essa essência. Confiança é não perder a fé que você tem na vida, nos seus Mestres, no seu Caminho e nas Divindades. Se você perder essa fé, perderá a esperança, perderá o Tao, o Principio, o Caminho; e se perder o Caminho, irá flutuar no mar da tempestade, conhecendo altos e baixos. Aí, sim, você reclamará dos seus sofrimentos, por isso não se pode perder a fé. Se a fé é necessária para qualquer um, para um Sacerdote ela é mais necessária ainda. É preciso nunca perder a esperança, por mais difícil que seja a situação. Muitas vezes, nós perdemos a esperança, a fé porque a vida está fácil; em outras circunstancias, nós perdemos a fé porque em muitos aspectos, a nossa vida está muito dura; e quando o nosso dia está ‘morno’, nós estamos distraídos. Então, onde está o nosso trabalho interior? Ou será que o trabalho espiritual é apenas decorar textos, selos mágicos e adquirir conhecimentos que podem ser exibidos numa mesa de bar, através de bate-papos e belos discursos, do tipo ‘Lao Tse já disse, blablablá, blablablá’?. Então, um Taoísta, um sacerdote deve estar ciente de que precisa manter sempre acesa no seu âmago a chama da sua fé e cuidar para que jamais se deixe ser levado pelos labirintos da vida.

RECONHECER SUA UNIÃO COM UMA GRANDE FORÇA ESPIRITUAL

Uma pessoa que possui uma autentica Iniciação espiritual, como a que vocês receberam – e aqui eu estou me referindo a qualquer autentica tradição, não somente à nossa – precisa ter consciência de fez um elo, um casamento, uma união com uma grande força espiritual.

Como qualquer um de vocês, uma pessoa dessas precisa ter consciência disso, precisa saber reconhecer a força espiritual que recebeu e exatamente por isso, não deverá jamais temer qualquer ilusionismo, como as feitiçarias. Não deverá jamais criar dentro de si inquietações ou inseguranças; não deverá temer Espíritos, entidades ou despachos de encruzilhadas. Quem teme esses ilusionismos é alguém que perdeu sua fé, esqueceu sua identidade ou perdeu sua luz porque seu coração entrou na escuridão – exatamente a circunstancia que abre as portas para possíveis intervenções, que são muito mais sugestões do que, propriamente, realidades. E, na maioria das vezes, nem existem.

De uma forma geral, eu acredito que pequenas coisas como feitiçarias, em boa parte não surtem efeito algum. Não somente as pequenas feitiçarias, de um modo geral, não geram qualquer efeito, como ate mesmo aquelas que são auto-denominadas de alta magia também não geram qualquer efeito, não servem para nada. No máximo, servem como um consolo, uma satisfação para os ignorantes. Somente os ignorantes gastam seu tempo pensando em magias, temendo o Diabo, temendo fantasmas, entidades, mortos, temendo isso ou aquilo.

Na ultima aula de astrologia, a conversa acabou girando em torno desse assunto e eu disse a meus alunos, que a maioria dos feiticeiros são aquelas pessoas que gostariam bater no outro sem bordão, enquanto os enfeitiçados são aqueles que apanham do nada. Um quer bater com nada e o outro acredita que pode apanhar do nada; os dois acreditam, fantasiam-se juntos, um se sentirá vitorioso e o outro sofrerá, podendo, até mesmo, ficar doente. Esse é o caminho dos ignorantes, não é caminho da iluminação, não é o caminho da sabedoria, por isso um Sacerdote jamais deveria temer esse tipo de ilusionismo.

Vocês fizeram uma grande Iniciação, são fortes; caminhando com retidão na vida, com sensatez e sabedoria, nada poderá lhes acontecer. Se existem alguns momentos mais difíceis e outros mais fáceis na vida de cada um, isso acontece com qualquer pessoa. Não é porque você é um Sacerdote, que vai deixar de correr o risco de perder o emprego, de um dia ganhar menos dinheiro, de perder seu namorado ou sua namorada ou não conseguir se apreciado por outras pessoas, dentro do seu aspecto mundano.

Existem também aquelas pessoas que são obcecadas em buscar ferramentas mágicas, que estão sempre querendo aprender mais técnicas, ter um número cada vez maior do que consideram ‘armas nas mãos’ e essa ansiedade, mais uma vez, demonstra a falta de fé dessas pessoas. Os grandes Mestres do passado brilharam no Continente, enfrentaram grandes tradições de mãos vazias; nunca precisam se defender, estocando técnicas mágicas. O Fa (magia) é essencialmente da nossa convicção interior, que desperta a força natural que existe dentro de nós, ele não é uma ‘arma’ para você segurar.

Um famoso Mestre de Hong Kong, que é budista tibetano, numa de suas palestras falou de uma maneira muito clara, a respeito de pessoas que acreditam sempre existir uma magia de Feng Shui para corrigir o destino de alguém, melhorando seu namoro, seu casamento, etc., a partir de mudança da sua casa mal construída: “se a magia fosse tao poderosa, os monges tibetanos, que recitavam seus mantras secretos, conseguiriam comover os deuses do Céu, mas não conseguiriam comover os fuzis do Mao Tzé Tung. Morreram todos: terra assolada, templos destruídos, expulsos da sua pátria”.

Isso significa que a alta magia do Fa não foi feita para visar ao poder do mundo, menos ainda para objetivos mundanos. São ingredientes ou ferramentas que podem ser utilizados pela pessoa que ainda carece de fé e que, através da pratica do Fa, consegue restaurar sua força interior, abrir sua consciência e despertas sua luz para um desenvolvimento espiritual. O Fa não pode ser utilizado para garantir emprego, nem para prejudicar outra pessoa; quem acredita nisso é feiticeiro e feiticeiro é inferior, é aquele que acredita na fantasia e na ilusão. Mas isso faz parte do mundo dos obscuros, não tem relação com a luz.

Portanto, existem aquelas pessoas que buscam incessantemente as práticas mágicas, acreditando que só assim elas conseguirão se proteger. O que elas não sabem é que todos os Fa, todas as magias, na concepção Taoísta, são apenas um remédio para quem as pratica, com o objetivo de restaurar a força de auto confiança e de fé que originalmente já existe dentro de cada um de nós. Quem não possui a fé, pode saber todas as magias do mundo e nenhuma funcionará; e para quem tem fé, basta apenas ter uma prática, uma técnica, apenas uma já é suficiente para a pessoa triunfar, sem qualquer dificuldade.

AUSTERIDADE CONSIGO E TOLERÂNCIA COM OS OUTROS

Lao Tzé diz que o Grande Caminho se encontra dentro de cada um e Lü Tzu diz ‘é preciso ser austero consigo e tolerante com outros’. Essas palavras dos Mestres lembram que todas as vezes em que olhamos para uma situação, não devemos enxergar somente os erros alheios, mas procurar lembrar, sempre, de que nós também devemos melhorar.

Devemos refletir sempre a respeito desses quatro pontos. é preciso enfatizar o caminho espiritual interior. Muitas vezes nas nossas vidas ao nos vermos diante de dificuldades, a nossa tendência é identificar no mundo exterior a causa de nossos problemas. Com isso esquecemos de olhar para dentro de nós mesmos, e perceber que somos a causa original da situação que vivemos. O caminho espiritual é a transformação da consciência e é através dela que a nossa vida se reestrutura e se renova de fato.

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