A abertura da percepção e o aumento da capacidade extrasensorial deveriam ser desenvolvidas, apenas, quando pudessem ser associadas ao desenvolvimento da prática espiritual que traz a estabilidade e a paz interior.
Wu Jyh Cherng, Sociedade Taoísta do Brasil
Jornal Tao do Taoísmo – n. 12 índice
Quanto mais uma pessoa pratica a meditação, maior silêncio interior e maior grau de quietude interior ela adquire e, com isso, maior capacidade terá para as atividades da sua consciência. Por isso ela se torna mais inteligente. Ter inteligência é ter maior grau de capacidade mental, intelectual, racional, etc. Significa ter maior grau de observação, percepção e compreensão. Uma pessoa que pratica uma boa meditação, quando colhe o resultado principal da sua prática – a quietude e a serenidade interior – assimila uma espécie de silêncio que permite a ela escutar e observar melhor. Ou seja: ela também se torna mais inteligente.
Normalmente, quando nós não conseguimos ouvir direito é porque existe muito barulho fora ou dentro da nossa cabeça; e quando não conseguimos enxergar direito uma situação é porque existe um excesso de imagens tumultuadas dentro e fora da nossa mente. A prática da meditação vai substituindo, aos poucos, esse excesso de imagens interiores por uma lucidez interior cada vez maior. Então, a pessoa que realiza sua prática regularmente percebe que, paulatinamente, suas imagens interiores vão diminuindo, enquanto seu grau de lucidez vai aumentando. Com isso, ela começa a ter condições de observar e compreender melhor tudo que acontece consigo mesma e tudo que está à sua volta.
O rítmo desenfreado é uma grande armadilha.
O que normalmente acontece com um praticante de meditação é que, após um período de prática, por conseguir um resultado de quietude interior, por adquirir mais lucidez, ele começa a utilizar mais a mente e passa a ter, além das atividades necessárias à sua vida, muitas outras atividades mentais e intelectuais que não tinha antes. A partir daí, pode se tornar mentalmente acelerado e com isso corre o risco de entrar num ritmo desenfreado. Isso representa uma grande armadilha, porque a aceleração excessiva pode levá-lo a outro tipo de vício, que é o da pessoa que não consegue “não pensar”, não consegue “não ter idéia”.
Nesse caso, o praticante se torna uma pessoa “elétrica”, compulsiva, que começa a criar sem interrupção, que escreve, pinta, lê, está sempre demonstrando que é capaz de muitas coisas. E como todas essas criatividades são referidas a coisas externas da vida, são referidas a outras pessoas, a trabalhos, criações, invenções, etc., esse esforço vai acabar exaurindo sua energia, sua criatividade. Com isso, a pessoa acaba desgastando sua luz interior, sua lucidez interior e quando já não sobrou mais nada daquela luz, depois que toda sua lucidez já se desgastou, essa pessoa não consegue mais deixar de ser assim e isso vai criar um grande conflito para ela.
O que acontece, normalmente, quando você passa a ter muitos “insights” é que seus amigos começam a procurar você, a telefonar para saber o que está acontecendo, começam a pedir conselhos, pedir idéias a respeito de suas próprias vidas e como você consegue responder a todas essas solicitações sem precisar se esforçar muito, termina se transformando em um “consultor”, até chegar o momento em que aquele hiper-desgaste vai “descarregar” sua bateria, que vem a ser, exatamente, a sua serenidade e a sua lucidez e quando isso acontece, aquelas pessoas que têm laços amarrados com você não ficam sabendo do ocorrido, por isso continuam procurando por você, continuam solicitando sua ajuda. Nessa hora, devido aos laços que tem com elas você não consegue deixar de responder, mas se torna repetitivo porque também não consegue criar mais nada de novo. Com isso, você cai no “círculo vicioso” e diante dessa circunstância, normalmente, entra em crise, “pifa” porque não consegue mais se renovar ou continua com a prática de meditação com a intenção de conseguir, continuamente, alimentar sua criatividade e se manter em condições de fornecer as informações solicitadas pelas outras pessoas. Mas nesse caso, o que você perde é o objetivo da meditação.
A aceleração excessiva pode levar a um tipo de vício, que é o da pessoa que não consegue “não pensar”, não consegue “não ter idéia”.
No Japão, muitas empresas promovem horários para a prática obrigatória de meditação para seus executivos, mas não fazem isso porque os donos das empresas estejam se preocupando ou querendo que seus executivos se espiritualizem e sim porque querem que eles tenham paz na cabeça para conseguirem produzir mais. Depois que os executivos conseguem chegar a esse objetivo e voltam a ficar estressados, as empresas outra vez promovem as sessões obrigatórias de meditação para esses empregados, para que eles descansem suas mentes, criem mais paz nas suas cabeças e produzam mais ainda do que já produziam. Então, o propósito da prática da meditação, nessa situação, é invertido.
Aumentar a inteligência é ótimo, alcançar esse resultado da prática da meditação é ótimo, mas você não deveria eleger esse resultado como seu objetivo porque, nesse caso, o propósito inicial da meditação estaria sendo invertido e se você fizer isso, vai se transformar em prisioneiro do fenômeno, que deveria ser a consequência e não a causa da meditação.
A inteligência aumentada é um acessório, um brinde.
Se você meditar com a intenção de chegar ao resultado, ao contrário de chegar ao resultado apenas como uma consequência da prática, você vai estar esquecendo o princípio da sua prática, que é o caminho espiritual, ao passo que se você meditar, normalmente, vai acabar tendo a sua capacidade mental e intelectual aumentadas, mesmo que não esteja pensando nisso, mesmo que não esteja buscando isso. A inteligência aumentada é um acessório, um “brinde” que você ganha, mas se você pensa em trabalhar para ganhar um brinde, vai estar invertendo o valor do seu trabalho.