A experiência do Caos Primordial reduz as sementes cármicas e torna a mente serena.
Wu Jyh Cherng, Sociedade Taoísta do Brasil
Jornal Tao do Taoísmo – n. 14 índice
O silêncio é fundamental para se conseguir alcançar a mente serena e clara, que vai acrescentar aos conhecimentos a sabedoria necessária para levá-la a uma correta aplicação do que aprendeu e esse silêncio ou quietude é encontrado quando se pratica a meditação. (A completa quietude interior é resultado da fusão da energia com a consciência de uma pessoa, ou seja, da integração da mente com a respiração.) Nesse momento a pessoa penetra no estado do Caos Primordial e começa a experimentar uma sensação parecida com a de embriaguez,é como se tudo à sua volta se tornasse caótico, ela perde a noção de quem é, de onde está e do significado de tudo que está vivendo.
Na verdade, ela não fica nem mesmo com essas dúvidas porque já deixou de ter noção do que está acontecendo. É possível que após essa experiência, ao sair do estado da meditação a pessoa sinta entorpecimento por alguns segundos ou minutos e não consiga lembrar nem mesmo do seu nome, mas se isso acontecer com o leitor, não é preciso desesperar-se, basta esperar alguns segundos que logo em seguida todas as lembranças voltarão à sua mente.
A esse respeito, o benefício que o praticante recebe é aproximar-se do estágio da libertação do ciclo da Transmigração porque cada vez que uma pessoa visita o caos reduz suas sementes cármicas e sai da experiência com a mente mais serena. No estado de Caos Primordial não existe, diferença entre luz e trevas porque sendo resultado da fusão que ocorre entre o yin e o yang ele passa a ser um mundo único, que existe como estágio anterior ao mundo da dualidade luz/obscuridade.
No Caos Primordial não existe a separação maniqueísta entre os princípios antagônicos entre o bem e o mal e é exatamente por isso que não se empregam os sentidos de caos das trevas e caos da luz para designar esse estado.
A diferença entre o Caos Primordial e o caos do engarrafamento é que no Caos Primordial da meditação não existem carros, placas, sinais, motoristas ou caminhos. No mundo manifestado costuma-se usar o conceito do Caos como palavra genérica para representar toda situação em que se instala a desordem, mas esse não é o sentido religioso do Caos Primordial, estágio similar ou análogo ao princípio da criação do universo, em que a suposta desordem que se instala na consciência de um praticante da meditação é a condição que precede e lhe permite penetrar no vazio da inexistência, onde a inexistência de qualquer manifestação constitui a própria potencialidade de criação de todas as manifestações existentes e não existentes. A diferença que existe entre o Caos Primordial e o caos no trânsito, por exemplo é que, mesmo diante de um engarrafamento monumental, em que todos os automóveis estão parados e nenhum motorista consegue se orientar, ainda assim todos estão conseguindo ter consciência da desordem em que se encontram, enquanto no Caos Primordial, além do praticante não ter consciência de que se encontra no Caos Primordial, não tem consciência nem mesmo de sua existência.
Quem está nesse estado não experimenta qualquer tipo de sentimento ou pensamento porque sua razão e seus sentidos já terão sido diluídos dentro do Caos; a pessoa, então deixa de pensar, sentir e se emocionar, perde a noção de tempo e espaço porque durante alguns segundos, minutos ou horas, dependendo do nível da sua meditação, ela passa a ser apenas uma consciência que existe dentro do estado primordial do ser. Mas depois de passada a experiência, ela volta ao mundo manifestado para continuar vivendo sua vida cotidiana, da mesma maneira que vivia antes da experiência.
Dentro do Caminho espiritual Taoísta, quanto mais vezes e mais tempo uma pessoa penetra e permanece nesse caos, que vem a ser o néctar do princípio do universo, mais vezes e mais tempo será banhada por esse néctar, que tem o efeito de expandir sua consciência, sua energia e, como consequência, expandir a duração de sua vida física.